quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Dissidentes cibernéticos driblam censura de Mianmar


Protestos em Mianmar
Imagens de passeatas de monges têm sido vistas mundo afora
Os bloggers de Mianmar (antiga Birmânia) estão usando a internet para driblar a censura e contar ao mundo o que está acontecendo debaixo do manto de silêncio imposto pela junta militar.

Imagens de monges com mantos laranja liderando multidões pelas ruas de Yangun vêm sendo transmitidas para fora do país conhecido por seu regime totalitário e pelo controle repressivo da informação.

As fotos são às vezes granuladas e as imagens de vídeo tremidas – capturadas sob grande risco pessoal com telefones celulares -, mas cada uma representa uma poderosa reafirmação de dissidência política.

“É impressionante como a população de Mianmar tem sido capaz de receber coisas de dentro e de fora por meio de redes clandestinas”, diz Vincent Brussels, chefe da seção asiática da organização Repórteres sem Fronteiras, que defende a liberdade de imprensa.

“Antes, eles tinham que passar as coisas de mão em mão, mas agora estão usando a internet – sites proxy (que permitem a conexão sem identificar o usuário, burlando os controles), o Google, o Youtube e todas essas coisas”, diz.

Diferenças de 1988

O uso da internet como uma ferramenta política é uma das diferenças mais marcantes entre os atuais protestos e o levante de 1988, que foi brutalmente reprimido.

Graças em parte aos bloggers, desta vez o mundo exterior está a par dos detalhes do que está acontecendo nas ruas de Yangun, Mandalay e Pakokku e está sedento por mais informações.

O blooger Ko Htike, nascido em Mianmar mas atualmente radicado em Londres, está transformando seu blog anteriormente dedicado à literatura em uma agência de notícias, com um crescimento de dez vezes na audiência.

Ele publica fotos, vídeos e informações enviadas a ele por uma rede de contatos clandestinos com o país.

“Eu tenho cerca de dez pessoas por lá, em locais diferentes. Eles me enviam seu material de internet-cafés, por meio de páginas de acesso livre ou às vezes por e-mail”, disse ele à BBC.

“Todos os meus contatos estão entre os budistas, acompanhando as passeatas, e assim que conseguem alguma imagem ou notícia eles entram num internet-café e mandam para mim”, disse.

Ko Htike é um dos vários ativistas online de Mianmar, em sua maioria baseados fora das fronteiras do país.

Guia para dissidentes

Protestos em Mianmar
Para analistas, regime subestimou potencial da internet
Os Repórteres sem Fronteira relatam como um guia para dissidentes cibernéticos para jovens do país foi febrilmente disseminado entre um grande grupo de jovens, politicamente ativos e com prática no uso de computadores.

Os bloggers estão ensinando outros a usar sites proxy baseados no exterior – como your.freedom.net e glite.sayni.net – para ver páginas bloqueadas e navegar virtualmente sem serem detectados pelo ciberespaço, trocando dicas e links em suas páginas.

A internet também se tornou um espaço virtual para grupos políticos que não podiam expressar abertamente suas visões em público.

Ko Htike encontrou sua rede de jornalistas-cidadãos em um fórum de internet que foi rapidamente desmontado após os contatos iniciais.

Tais fóruns também são usados como um espaço para alertar aos bloggers quando conteúdos novos – fotos ou vídeos – ficam disponíveis.

“Nós normalmente usamos salas de bate-papo na internet, como o Yahoo Messenger”, diz Ko Htike. “Se eles encontram dificuldades, eles nos ligam. Eles não dizem nada, apenas nos passam links ou um código, sem mencionar nada sobre isso.”

Potencial subestimado

Analistas concordam que apesar de o acesso à internet estar disponível atualmente para menos de 1% da população, o regime militar subestimou seu potencial.

O regime parou de se concentrar em policiar suas fronteiras virtuais após uma luta pelo poder que resultou na deposição do então primeiro-ministro Khin Nyunt em outubro de 2004, segundo afirma Brussels, da Repórteres sem Fronteiras.

“Khin Nyunt era um homem da inteligência militar, que tinha uma grande rede de espiões e pessoas que eram bastante atentas sobre todos esses tipos de controle. Após sua deposição, eles não tinham mais muito conhecimento nessa área”, disse Brussels.

“Tem havido oportunidade para as pessoas no país de usar seus conhecimentos. Eles são jornalistas e usuários de computador jovens, que sabem como driblar o bloqueio e a censura”, afirma.

Apesar de manter o controle total dos dois únicos provedores de internet e de limitar severamente o uso da internet – qualquer um que não registre seu computador conectado à internet está sujeito a uma pena de 15 anos de prisão – Ko Htike diz que a atual crise tornou os líderes do país cientes da ameaça representada pelos bloggers.

Protestos em Mianmar
Blogger diz que governo tenta espalhar boatos por meio da rede
Ele descreveu como tem recebido e-mails pessoais – e manifestantes dentro de Mianmar receberam mensagens por celular – espalhando informações falsas e boatos, por exemplo sobre repressão militar aos manifestantes.

Ele está convencido de que os boatos são espalhados pelas autoridades de Mianmar, tentando influenciar os manifestantes e disseminar propaganda governamental por meio de sua página.

“Muitas pessoas estão lendo meu blog, então se eu colocar notícias falsas no site isso vai afetar as pessoas. Eles (o governo) podem ver a audiência, podem ver que as pessoas estão acessando minha página... isso significa que estão tão temerosos que estão tentando me manipular e usar o poder popular”, disse Ko Htike.

Sistemas pouco sofisticados

Comparados com os controles virtuais e físicos sobre a internet na China, porém, os sistemas em Mianmar são bem pouco sofisticados, segundo os especialistas.

“O governo de Mianmar tem um regime de filtragem bem repressivo... mas isso pode ser um pouco inconsistente – um dos provedores de internet bloqueia somente as páginas internacionais, o outro apenas as regionais”, diz Ian Brown, especialista em privacidade e segurança na internet da Universidade de Oxford.

Os bloggers de Mianmar se dedicam a explorar as brechas.

“Isso é realmente importante; as pessoas querem saber o que está acontecendo em Mianmar”, diz Ko Htike.

Por meio de sua rede cibernética, ele também pretende proteger aqueles que arriscam suas vidas para alimentar seu blog, agora proibido dentro do país.

“Eu monitoro as notícias sobre Mianmar e renovo meu site constantemente, Se alguma coisa acontece, nós podemos avisar as pessoas. Nós podemos fazer algo, podemos manter as pessoas cientes”, afirma.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

RENAN CALHEIROS É ABSOLVIDO

Agência JB - 12/09/2007

BRASÍLIA - Encerrada a votação do plenário do Senado Federal, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi absolvido por 40 votos a 35, pondo um fim a 110 dias de processo por quebra de decoro parlamentar.

Uma grande frustação tomou conta dos senadores que esperavam pela cassação do senador. Esta foi a primeira vez na história em que um presidente da Casa teve uma cassação avaliada em Plenário. Após votação secreta, 40 senadores votaram pela absolvição, 35 votaram pela cassação e seis se abstiveram.

O presidente do PSDB, Tasso Jereissati, estava visivelmente abalado e chateado com o resultado da votação.

- Me decepcionei. Isso é resultado da relação de promiscuidade da relação do governo com a Câmara Federal. A sinceridade se perdeu. Um clima de traição, de mentiras, foi o que houve durante a votação. Não tenho a menor dúvida de que o PT teve muito a ver com isso, ajudou bastante. Pena que a descrença nos senadores vai continuar. Isso é um crime contra a instituição - disse.

O senador Renato Casagrande (PSB-ES), um dos relatores do processo que pediu a cassação de Renan Calheiros, disse que se sente frustrado com o resultado da votação. Ele classificou a soberania do Senado como arrogante e disse que a instituição continua "sangrando".

- Não temos uma resposta para a sociedade. Não tenho nem o que falar. A sociedade se enfraquece e sangra - disse Casagrande.

Heloísa Helena (PSOL-AL) classificou o resultado da absolvição do presidente do Senado como um "conluio para acobertar o Renan". Ela disse que o partido vai exigir a continuidade das investigações contra o parlamentar.

- Lógico que ficamos constrangidos com um resultado como esses - comentou.

Muito irritado, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), deixou o plenário do Senado criticando o resultado da votação.

- Tem que ser designado rápido um relator para os outros processos (no Conselho de Ética) para que possamos sair desse calvário - disse Demóstenes.

O senador complementou, chateado:

- Todos agora vamos pagar pelo erro que cometemos.

O senador Tião Viana (PT-AC), vice-presidente do Senado que conduziu a sessão desta quarta-feira, lembrou que ainda existem mais três representações contra Calheiros e que, por isso, ele vai trabalhar para que a Casa não paralise.

- Temos que trabalhar mais com a possibilidade do diálogo entre os partidos - disse.

- O líder do Democratas, José Agripino Maia (RN), disse que a primeira atitude de seu partido será exigir imediatamente para o presidente do Conselho de Ética do Senado a indicação de relatores para os outros processos contra Calheiros.

Renan deixou o Plenário da Casa logo depois que o resultado da votação, que indicou sua absolvição, foi divulgado. Ele saiu rapidamente e não quis dar declarações à imprensa.

Segundo sua assessoria, o senador foi para a residência oficial, na Península dos Ministros, assim que a votação foi encerrada.

Renan ainda terá pela frente mais três representações por quebra de decoro. Uma sobre suposto favorecimento à cervejaria Schincariol em negociação de dívidas com a Receita Federal e com o INSS, outra relativa ao uso de laranjas para a compra de duas emissoras de rádio e um jornal em Alagoas, e uma terceira referente à denúncia de desvio de dinheiro público junto a ministérios administrados pelo PMDB.

A população pobre do país será beneficiada com os investimentos públicos da Copa do Mundo de Futebol no Brasil em 2014?